domingo, 27 de novembro de 2016

Nuno – o menor dos problemas



Após o empate de ontem no Restelo, muitos portistas pediam, através das redes sociais, a demissão de Nuno Espírito Santo do comando do FC Porto. A indignação percebe-se, até porque se o FCP ficar a 7 pontos do líder, dificilmente será campeão. E se assim for, será o 4º ano consecutivo sem o título de campeão para os dragões, algo que nunca aconteceu na era Pinto da Costa. Mais: caso Braga e Vitória de Guimarães vençam os seus jogos, o FCP cairá para 5º lugar na classificação.

A crise é real, mas Nuno não é a causa dessa crise. Como treinador e líder, tem obviamente as suas responsabilidades. E não está isento de culpa do momento actual da sua equipa. Mas o despedimento de Nuno não traria aquilo que o FCP precisa neste momento. Já lá vamos.

Comecemos pelo trabalho do treinador. Muitas das críticas a Nuno focam-se no jogo da equipa, ou falta do mesmo. Por isso, analisemos os 4 momentos do jogo (Organizações ofensiva e defensiva; e transições ofensiva e defensiva) no que respeita ao último jogo.

Organização Ofensiva:



O FCP tem a sua ideia bem definida. Os 2 laterais dão largura à equipa, enquanto 3 dos 4 médios se aproximam dos 2 avançados. Esta dinâmica permite à equipa ter mais presença na frente, tanto para atacar como para uma eventual perda da bola. Como todas as dinâmicas, tem as suas lacunas, mas está bem definida e trabalhada.

Organização Defensiva:

A linha de 4 é fixa, assim como a linha de 2  da frente para a primeira pressão. E enquanto Corona fecha na linha, no outro lado ora temos Oliver, ora temos Otávio. Ainda assim, não costuma ser desse lado que a equipa apresenta mais debilidades defensivas.

Transição Ofensiva:

Quando a equipa recupera a bola, sai muito rápido para o ataque. Por norma, são definidas desde cedo 3 opções: as 2 alas e a zona central. A equipa desdobra-se bem e movimenta-se para os lugares correctos. Há alguma dificuldade na progressão com bola, uma vez que a mesma é feita pelo homem que se apresenta na zona central (pode ser Otávio, André Silva, Jota, etc).

Transição Defensiva:

 É uma das maiores virtudes da equipa. A pressão alta dos dragões é bem feita sobretudo porque conseguem aliar a isso o fecho de várias linhas de passe do adversário. Muita intensidade neste momento do jogo.



Como se pode ver, a equipa tem as suas ideias de jogo definidas. Concorde-se ou não, elas estão lá. Trabalhadas. Ontem o FCP mostrou isso. E a verdade é que não sendo um grande jogo, o FCP teve 4 oportunidades flagrantes de golo. A de Oliver então é gritante.


Mas será que as ideias de jogo do FCP são tão inferiores à do líder Benfica? Provavelmente não. Mas o momento da equipa é completamente inverso. E aqui entra o que precisa realmente a equipa portista.

Após André Villas-Boas, o FCP começou numa fase descendente. É certo que Vítor Pereira foi bi-campeão, mas nas 2 vezes, o Benfica teve muito demérito na forma como deixou escapar vantagens confortáveis. Além disso, o ex-adjunto de AVB nunca conseguiu provar o mesmo valor nas competições europeias.
Paulo Fonseca era talvez ainda demasiado “verdinho” para o FCP. Luís Castro era desenrasque. Lopetegui estava completamente desfasado da realidade Porto. Peseiro nunca foi primeira opção e Nuno veio de uma posição frágil. Mas o problema estava sempre no treinador? Não.

O FCP está débil. E quem lá está, não consegue virar a mentalidade. Este é o grande problema. E tudo ajuda. Obviamente que as contratações de Boly e Depoitre nunca fizeram sentido (sobretudo pelos valores) mas raramente jogam e a equipa falha na mesma.

Vítor Pereira ainda apanhou um empurrão de confiança da equipa do triplete. Mas a partir daí, à mínima contrariedade, a equipa cai. A confiança afunda-se e não há ninguém que de lá a consiga tirar.



Não se pode vencer sempre, e é uma grande verdade em qualquer desporto. Mas a crise do FCP vai muito além disso.

Não há muito tempo, Couceiro levava um FCP ,que tinha perdido no Dragão por 4-0 com o Nacional, a lutar pelo título até à última jornada. Co Adriaanse, conseguiu ser campeão mesmo com os desastres na Europa e frente aos rivais. Jesualdo foi campeão na última jornada (na segunda parte da última jornada), após quase ter hipotecado o título no Bessa.

Esse espírito colapsou. E não é despedindo Nuno que o FCP o vai recuperar. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O que significa este clássico?

Domingo teremos mais um Porto vs Benfica, mas não é só mais um clássico. Este Porto vs Benfica disputa-se em situação semelhante à vivida em 2010/11, a tal época inesquecível para qualquer portista.

Quando André Villas-Boas e Jorge Jesus se defrontaram no Dragão, os azuis e brancos tinham 7 pontos de vantagem para os encarnados. O clássico dessa época seria um dos pontos altos de uma época praticamente perfeita para os portistas. 5-0, com um FC Porto muito superior ao SL Benfica.

Antes do embate, os dois clubes também tiveram encontros europeus. O Benfica venceu o Lyon em casa. Num jogo de loucos, o Benfica esteve a vencer por 4-0 e sofreu 3 golos nos 20 minutos finais. Já o Porto empatava frente ao Besiktas.

Na época actual, o Benfica leva 5 pontos de vantagem que poderão passar para 8 e colocar os dragões em sérios problemas para reconquistar o campeonato. Tendo vencido o Dínamo de Kiev a meio da semana, não foi uma exibição imaculada.
Já o FC Porto precisa urgentemente de vencer. A equipa vem de uma vitória carregada de assobios no Dragão e carrega uma desvantagem pesada no campeonato.

Este Benfica de Rui Vitória leva os mesmos pontos que o Porto de AVB tinha antes do clássico. Tem também os mesmos golos sofridos e mais 2 golos marcados. AVB fez o melhor campeonato de sempre da era moderna do futebol português. Rui Vitória leva os mesmos números.

Este clássico é um clássico de decisão. Nenhum grande fica arredado do título com 8 pontos de atraso à 10ª jornada. Mas é uma desvantagem muito difícil de recuperar. Por outro lado, nos últimos 10 anos o Benfica só venceu uma vez no Dragão e o treinador dos portistas era Lopetegui, o que é uma atenuante.



Por fim, os treinadores.

Rui Vitória conseguiu unir os benfiquistas à sua volta. Pelo que ganhou, mas sobretudo pela forma que ganhou, Rui Vitória conseguiu estatuto no clube. E uma vitória no Dragão aumentaria esse estatuto. Não só pelo facto de ganhar em casa de um rival, mas também por perseguir a marca do melhor campeonato de sempre.


Já Nuno Espírito Santo continua a ser uma aposta duvidosa aos olhos de muitos portistas. A equipa tanto faz uma grande exibição como faz um jogo medíocre. Depois, há a questão (mais que discutida) do “ser Porto”. Nuno aposta na expressão, mas a verdade é que acaba por ter uma postura mais apática no banco e nas conferencias de imprensa. Falta-lhe, a ele, o tal ser Porto.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A nomeação mais que merecida de Rui Vitória

Rui Vitória está nomeado para o prémio de melhor treinador do ano. Será muito difícil vencer o prémio e obviamente que outros o merecem mais. Mas para um treinador que “não tinha mãos para um Ferrari”, que “só copia as ideias dos outros” ou que “não é treinador”, não está nada mal.

A entrada de Rui Vitória no Benfica não foi pacífica. Os pedidos por Marco Silva, os insultos a Luís Filipe Vieira por não renovar com Jorge Jesus ou até o apelido “Rui Derrota”, demonstram em parte a dificuldade que Rui Vitória teve ao entrar no seu clube de coração.

À nomeação para melhor treinador do ano, junta-se agora outra homenagem. A UEFA decidiu destacar a estatística do treinador português desde que começou no Benfica até ao dia de ontem. E porquê ontem, quando Rui Vitória leva 64 jogos pelos encarnados, número nada símbólico ou arredondado? Porque Rui Vitória chegou no Domingo à vitória 50 e aos 150 golos.


Mas afinal esta marca merece assim tanto destaque, ou estará a UEFA apenas a destacar por Rui Vitória poder ganhar um prémio de gabarito? Comparemos com alguns treinadores que fizeram números bem interessantes em Portugal:


-       Jorge Jesus, nos seus primeiros 64 jogos pelo Benfica, alcançou 45 vitórias com 142 golos marcados.

-       José Mourinho, nas duas épocas em que venceu tudo no FCP, conseguiu 48 vitórias e 139 golos nos primeiros 64 jogos. Se contarmos os primeiros 64 jogos de Mourinho os números são idênticos: 48 vitórias e 143 golos marcados.

-       Eriksson, que fez duas épocas sensacionais no Benfica nos anos 80, conseguiu 48 vitórias e 154 golos nos seus primeiros 64 jogos.

Rui Vitória não é o melhor treinador de sempre em Portugal, nem sequer o melhor treinador de sempre do Benfica. Mas é um treinador poderá ficar na história, bastando-lhe para isso manter o registo que tem.

Rui Vitória tem melhores números que Jesus, Mourinho ou Eriksson em 64 jogos. É por isso perfeitamente compreensível que seja um dos nomeados para o melhor treinador do Mundo.



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A birra compensou?

Em Portugal é cada vez mais comum vermos jogadores que mal chegam a um dos 3 grandes pensam desde logo em sair. Os 3 grandes são vistos como uma ponte para altos voos.

Numa fase onde vemos jovens jogadores decididos a vingarem nos seus clubes, é importante estabelecer um paralelismo entre as diferentes posturas que alguns jogadores têm.

Lindelof foi um dos jogadores mais cobiçados do mercado. Não quis sair. Quis ficar, jogar e crescer. Podia neste momento ser titular numa equipa de meio da tabela dos principais campeonatos europeus ou ser suplente num tubarão europeu.
André Silva estava numa situação semelhante, embora com menos cobiça, por ser uma revelação mais recente. 
A Gelson Martins chegarão também propostas, cabendo ao jogador a decisão final. Para já, parece que o jogador irá renovar com o Sporting.

Estes exemplos são muito importantes. Sobretudo vindos de jogadores jovens. Jogadores que poderão ser o futuro dos seus clubes não só com a sua presença mas também com a mensagem que passam para os mais jovens, ainda a jogar nas academias.


Por outro lado temos os exemplos de Jackson Martinez, Enzo Perez ou Bruma. 3 bons jogadores, com valor reconhecido mas que poderiam perfeitamente estar numa melhor posição. Nada garante que a conseguiriam se ficassem nos seus clubes. Mas pelos menos, as birras, mais ou menos públicas, seriam evitadas. Imaginem um miúdo de 13/14 anos a ver um dos símbolos/promessas do clube a esforçar-se tanto para sair. Imaginem se essas saídas resultassem num sucesso desportivo estrondoso. Como iriam atuar quando chegasse a sua vez?

Jackson Martinez era um dos melhores pontas-de-lança da Europa. Era capitão do FC Porto e uma das maiores referências da equipa. Sempre a ameaçar com a saída, acabou por trocar a hipótese AC Milan pelo Atlético de Simeone. Não era titular, e quando o era não mostrava merecer ser. Foi para a China, onde nem sempre é titular. Saiu da seleção colombiana dando lugar a Teo Gutierrez. Jackson juntou-se ao clube dos “jogadores ricos mas esquecidos”.

Enzo Perez será o que mais sucesso desportivo teve desde a sua saída. Mas não significa muito. Ainda que o Valencia tenha bastante nome e reputação, o clube atravessa uma má fase e anda pelo 2º ano consecutivo na segunda metade da tabela. Ainda ao serviço do Benfica, Enzo Perez foi titular na final do Mundial no Brasil. Um sonho para qualquer jogador de futebol. Actualmente não conta para a seleção, tendo sido utilizado apenas por 4 minutos para queimar tempo.

Por fim, Bruma pertence a outra categoria. Formado no Sporting, aproveitou oportunidade na equipa principal para sair de imediato. Rumou ao Galatasaray, onde jogou muitos minutos mas com rendimento inconstante. Foi emprestado à Real Sociedad onde fez muitos bons jogos. Regressou ao Galatasaray numa época em que o clube não participa em competições europeias. É presença assídua nos escalões jovens de Portugal, mas enquanto isso vai vendo Gelson Martins, Rafa e Bernardo Silva a jogar no escalão principal.

Resumindo, a birra compensou? A nível desportivo, claramente que não.