Após
o empate de ontem no Restelo, muitos portistas pediam, através das redes
sociais, a demissão de Nuno Espírito Santo do comando do FC Porto. A indignação
percebe-se, até porque se o FCP ficar a 7 pontos do líder, dificilmente será
campeão. E se assim for, será o 4º ano consecutivo sem o título de campeão para
os dragões, algo que nunca aconteceu na era Pinto da Costa. Mais: caso Braga e
Vitória de Guimarães vençam os seus jogos, o FCP cairá para 5º lugar na
classificação.
A crise é real, mas Nuno não é a causa dessa crise. Como
treinador e líder, tem obviamente as suas responsabilidades. E não está isento
de culpa do momento actual da sua equipa. Mas o despedimento de Nuno não traria
aquilo que o FCP precisa neste momento. Já lá vamos.
Comecemos pelo trabalho do treinador. Muitas das críticas a
Nuno focam-se no jogo da equipa, ou falta do mesmo. Por isso, analisemos os 4
momentos do jogo (Organizações ofensiva e defensiva; e transições ofensiva e
defensiva) no que respeita ao último jogo.
Organização Ofensiva:
O FCP tem a sua ideia bem definida. Os 2 laterais dão largura à equipa, enquanto 3 dos 4 médios se aproximam dos 2 avançados. Esta dinâmica permite à equipa ter mais presença na frente, tanto para atacar como para uma eventual perda da bola. Como todas as dinâmicas, tem as suas lacunas, mas está bem definida e trabalhada.
Organização Defensiva:
A linha de 4 é
fixa, assim como a linha de 2 da frente
para a primeira pressão. E enquanto Corona fecha na linha, no outro lado ora
temos Oliver, ora temos Otávio. Ainda assim, não costuma ser desse lado que a
equipa apresenta mais debilidades defensivas.
Transição Ofensiva:
Quando a equipa recupera a bola, sai muito rápido para o ataque.
Por norma, são definidas desde cedo 3 opções: as 2 alas e a zona central. A
equipa desdobra-se bem e movimenta-se para os lugares correctos. Há alguma
dificuldade na progressão com bola, uma vez que a mesma é feita pelo homem que
se apresenta na zona central (pode ser Otávio, André Silva, Jota, etc).
Transição Defensiva:
Como se pode ver, a equipa tem as suas ideias de jogo
definidas. Concorde-se ou não, elas estão lá. Trabalhadas. Ontem o FCP mostrou
isso. E a verdade é que não sendo um grande jogo, o FCP teve 4 oportunidades
flagrantes de golo. A de Oliver então é gritante.
Mas será que as ideias de jogo do FCP são tão inferiores à
do líder Benfica? Provavelmente não. Mas o momento da equipa é completamente
inverso. E aqui entra o que precisa realmente a equipa portista.
Após André Villas-Boas, o FCP começou numa fase descendente.
É certo que Vítor Pereira foi bi-campeão, mas nas 2 vezes, o Benfica teve muito
demérito na forma como deixou escapar vantagens confortáveis. Além disso, o
ex-adjunto de AVB nunca conseguiu provar o mesmo valor nas competições
europeias.
Paulo Fonseca era talvez ainda demasiado “verdinho” para o
FCP. Luís Castro era desenrasque. Lopetegui estava completamente desfasado da
realidade Porto. Peseiro nunca foi primeira opção e Nuno veio de uma posição
frágil. Mas o problema estava sempre no treinador? Não.
O FCP está débil. E quem lá está, não consegue virar a
mentalidade. Este é o grande problema. E tudo ajuda. Obviamente que as
contratações de Boly e Depoitre nunca fizeram sentido (sobretudo pelos valores)
mas raramente jogam e a equipa falha na mesma.
Vítor Pereira ainda apanhou um empurrão de confiança da
equipa do triplete. Mas a partir daí, à mínima contrariedade, a equipa cai. A
confiança afunda-se e não há ninguém que de lá a consiga tirar.
Não se pode vencer sempre, e é uma grande verdade em
qualquer desporto. Mas a crise do FCP vai muito além disso.
Não há muito tempo, Couceiro levava um FCP ,que tinha
perdido no Dragão por 4-0 com o Nacional, a lutar pelo título até à última
jornada. Co Adriaanse, conseguiu ser campeão mesmo com os desastres na Europa e
frente aos rivais. Jesualdo foi campeão na última jornada (na segunda parte da
última jornada), após quase ter hipotecado o título no Bessa.
Esse espírito colapsou. E não é despedindo Nuno que o FCP o
vai recuperar.