Esta
semana, o Benfica vendeu Gonçalo Guedes ao PSG. São, segundo a imprensa, 30M€ a
juntar aos já muitos milhões recebidos por jogadores da formação. E 30M€ por um
jogador saído da formação, será efectivamente uma boa venda, ou o futebol
estará a mudar de forma aos clubes repensarem estas saídas?
Há
cerca de 10/20 anos, os clubes portugueses desenvolviam um trabalho muito bom
na observação jovens promessas. A falta de verbas comparativamente aos
“tubarões”, criou a necessidade de apanhar promessas, desenvolvê-las e depois
vender por muito mais dinheiro, de forma a tornar os clubes sustentáveis e
competitivos.
A
competitividade na Europa, ainda assim, era relativa. O FCP venceu a Liga dos
Campeões em 2004, mas nenhum outro clube português chegou às meias-finais da
prova nos últimos 20 anos. Aliás, nas últimas 20 edições da Champions, nem em
metade tivemos clubes portugueses nos quartos de final. Logo por aí se vê a tal
competitividade era bem relativa.
Porém,
nos últimos anos, os clubes europeus com outro poder económico começaram também
a procurar essas promessas. Jogadores como Di Maria, James e Slimani, eram
comprados por somas bastante elevadas e deixavam a dúvida se os clubes não se
deveriam ter antecipado. Desta forma, começamos a ver contratações como as de
Iheanacho (City), André Moreira e Diogo Jota (Atlético), Halilovic (Barcelona),
Odegaard (Real Madrid), etc.
É
certo que contratar um jogador com 17-20 anos, sem experiência significativa no
futebol internacional, é um risco bem maior que contratar um jogador com 2/3
Champions disputadas. Mas a diferença nos passes dos jogadores ultrapassava
muitas vezes os 20/30M€. E isto acontecia recorrentemente.
Neste
sentido, os clubes portugueses foram obrigados a centrar atenções onde já
deviam ter centrado há muito: a formação. Em Portugal formam-se grandes
jogadores. Obviamente que existem imensas condicionantes para vermos um jogador
a singrar. Mas a maioria delas podem (e devem) ser controladas no mesmo
processo de formação. Há uns anos atrás, formava-se para vencer. O que
interessa é ganhar em Iniciados, Juvenis, Juniores, etc. Mesmo que a cada
fornada que chegue aos séniores, não entre um único jogador. Uma política
completamente absurda. Vencer é importante sim, mas veja-se os exemplos de
Barcelona/Real. FCP e Real foram as únicas equipas a vencerem a 2ª divisão com
as equipas B. Mas absolutamente ninguém coloca a escola do Real à frente da
escola do Barcelona. Sem dúvida que vencer é importante, mas mais ainda é
preparar os jovens. Isso, é formação.
Em
Portugal, nos últimos anos, olhou-se muito para o Sporting CP como um exemplo
negativo. Os “leões” sempre usaram vários jogadores da formação, mas nunca
estiveram nuns quartos-de-final da Champions e venceram apenas 2 títulos nos
últimos 20 anos. Mas o problema do SCP não era lançar os jogadores. Ou alguém
questiona o valor de Rui Patrício, João Mário, Figo, Ronaldo, Nani? O problema
do SCP sempre foi a gestão desses jogadores. Basta lembrar que Ronaldo saiu aos
18 anos, por 15M€, para o Man Utd. Man Utd que contratou pouco depois Anderson
por mais de 30M€. O problema do SCP estava dividido em 2 partes:
-
Em primeiro lugar, os jogadores saíam por
valores razoáveis, mas bem baixos para o potencial dos mesmos. Isto deve-se
sobretudo ao clube vencer pouco. E os jogadores querem sair, e os compradores
sabem que têm bastante poder na negociação;
-
Em segundo lugar, devido aos valores não serem
tão elevados como a concorrência vendia, o poder do clube no mercado era
reduzido. É diferente receber 30M€ por um jogador e gastar 10M€ para colmatar a
saída, do que receber 10M€ e investir 3M€.
E é aqui que entra um aspecto muito importante nesta nova
forma de encarar o mercado pelos clubes portugueses. Tem de haver progressão
associada à rentabilização. Ou seja, o Benfica lucrou já 65M€ em 2 jogadores da
formação (Renato e Gonçalo), mas não existe continuidade. Ambos foram vendidos
antes de atingirem todo o seu potencial, sendo que Renato foi logo após meia
época.
E o caso do Benfica não é singular.
Nas últimas semanas, tem-se falado que o FCP terá já um pré-acordo com o Real
Madrid por André Silva. Lindelof e Ederson poderão sair também. O mesmo para
Gelson Martins. Os clubes portugueses precisam de segurar por mais tempo os
seus valores. Sobretudo estes valores, que sabem e entendem os valores do
clube. Que o sentem nos seus corações.
Para manter os jogadores, os clubes
precisam fundamentalmente de uma coisa: melhor gestão financeira. Passando a
explicar com 3 exemplos práticos para cada um dos grandes:
-
SL Benfica: será que Gonçalo Guedes saíria se
recebesse uma proposta de renovação passando a ser um dos mais bem pagos? Será
que Gonçalo saíria se ganhasse tanto como ganhava Taarabat? Segundo a imprensa,
o português ganhava 40.000€ por mês, ao passo que o marroquino ganhava
193.000€.
-
FC Porto: não seriam melhor aplicar parte dos
8M€ que Depoitre custou num salário anual para André Silva?
-
Sporting CP: não seria mais rentável passar
Gelson para um dos mais bem pagos do plantel do que gastar esse dinheiro em
jogadores como Elias?
Finalizando, os clubes portugueses devem formar e apostar
nessa formação. Mas devem também proteger-se.
Afinal, se conseguem segurar Di Maria, James e Slimani, porque não
haveriam de conseguir segurar os seus?