quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Proteger e potenciar as academias



Esta semana, o Benfica vendeu Gonçalo Guedes ao PSG. São, segundo a imprensa, 30M€ a juntar aos já muitos milhões recebidos por jogadores da formação. E 30M€ por um jogador saído da formação, será efectivamente uma boa venda, ou o futebol estará a mudar de forma aos clubes repensarem estas saídas?

Há cerca de 10/20 anos, os clubes portugueses desenvolviam um trabalho muito bom na observação jovens promessas. A falta de verbas comparativamente aos “tubarões”, criou a necessidade de apanhar promessas, desenvolvê-las e depois vender por muito mais dinheiro, de forma a tornar os clubes sustentáveis e competitivos.

A competitividade na Europa, ainda assim, era relativa. O FCP venceu a Liga dos Campeões em 2004, mas nenhum outro clube português chegou às meias-finais da prova nos últimos 20 anos. Aliás, nas últimas 20 edições da Champions, nem em metade tivemos clubes portugueses nos quartos de final. Logo por aí se vê a tal competitividade era bem relativa.

Porém, nos últimos anos, os clubes europeus com outro poder económico começaram também a procurar essas promessas. Jogadores como Di Maria, James e Slimani, eram comprados por somas bastante elevadas e deixavam a dúvida se os clubes não se deveriam ter antecipado. Desta forma, começamos a ver contratações como as de Iheanacho (City), André Moreira e Diogo Jota (Atlético), Halilovic (Barcelona), Odegaard (Real Madrid), etc.

É certo que contratar um jogador com 17-20 anos, sem experiência significativa no futebol internacional, é um risco bem maior que contratar um jogador com 2/3 Champions disputadas. Mas a diferença nos passes dos jogadores ultrapassava muitas vezes os 20/30M€. E isto acontecia recorrentemente.

Neste sentido, os clubes portugueses foram obrigados a centrar atenções onde já deviam ter centrado há muito: a formação. Em Portugal formam-se grandes jogadores. Obviamente que existem imensas condicionantes para vermos um jogador a singrar. Mas a maioria delas podem (e devem) ser controladas no mesmo processo de formação. Há uns anos atrás, formava-se para vencer. O que interessa é ganhar em Iniciados, Juvenis, Juniores, etc. Mesmo que a cada fornada que chegue aos séniores, não entre um único jogador. Uma política completamente absurda. Vencer é importante sim, mas veja-se os exemplos de Barcelona/Real. FCP e Real foram as únicas equipas a vencerem a 2ª divisão com as equipas B. Mas absolutamente ninguém coloca a escola do Real à frente da escola do Barcelona. Sem dúvida que vencer é importante, mas mais ainda é preparar os jovens. Isso, é formação.

Em Portugal, nos últimos anos, olhou-se muito para o Sporting CP como um exemplo negativo. Os “leões” sempre usaram vários jogadores da formação, mas nunca estiveram nuns quartos-de-final da Champions e venceram apenas 2 títulos nos últimos 20 anos. Mas o problema do SCP não era lançar os jogadores. Ou alguém questiona o valor de Rui Patrício, João Mário, Figo, Ronaldo, Nani? O problema do SCP sempre foi a gestão desses jogadores. Basta lembrar que Ronaldo saiu aos 18 anos, por 15M€, para o Man Utd. Man Utd que contratou pouco depois Anderson por mais de 30M€. O problema do SCP estava dividido em 2 partes:
-                Em primeiro lugar, os jogadores saíam por valores razoáveis, mas bem baixos para o potencial dos mesmos. Isto deve-se sobretudo ao clube vencer pouco. E os jogadores querem sair, e os compradores sabem que têm bastante poder na negociação;
-                Em segundo lugar, devido aos valores não serem tão elevados como a concorrência vendia, o poder do clube no mercado era reduzido. É diferente receber 30M€ por um jogador e gastar 10M€ para colmatar a saída, do que receber 10M€ e investir 3M€.

E é aqui que entra um aspecto muito importante nesta nova forma de encarar o mercado pelos clubes portugueses. Tem de haver progressão associada à rentabilização. Ou seja, o Benfica lucrou já 65M€ em 2 jogadores da formação (Renato e Gonçalo), mas não existe continuidade. Ambos foram vendidos antes de atingirem todo o seu potencial, sendo que Renato foi logo após meia época.

 
            E o caso do Benfica não é singular. Nas últimas semanas, tem-se falado que o FCP terá já um pré-acordo com o Real Madrid por André Silva. Lindelof e Ederson poderão sair também. O mesmo para Gelson Martins. Os clubes portugueses precisam de segurar por mais tempo os seus valores. Sobretudo estes valores, que sabem e entendem os valores do clube. Que o sentem nos seus corações.


            Para manter os jogadores, os clubes precisam fundamentalmente de uma coisa: melhor gestão financeira. Passando a explicar com 3 exemplos práticos para cada um dos grandes:

-                SL Benfica: será que Gonçalo Guedes saíria se recebesse uma proposta de renovação passando a ser um dos mais bem pagos? Será que Gonçalo saíria se ganhasse tanto como ganhava Taarabat? Segundo a imprensa, o português ganhava 40.000€ por mês, ao passo que o marroquino ganhava 193.000€.
-                FC Porto: não seriam melhor aplicar parte dos 8M€ que Depoitre custou num salário anual para André Silva?
-                Sporting CP: não seria mais rentável passar Gelson para um dos mais bem pagos do plantel do que gastar esse dinheiro em jogadores como Elias?



Finalizando, os clubes portugueses devem formar e apostar nessa formação. Mas devem também proteger-se.  Afinal, se conseguem segurar Di Maria, James e Slimani, porque não haveriam de conseguir segurar os seus?

sábado, 21 de janeiro de 2017

10 pecados capitais do Sporting CP

O Sporting CP não vive um bom momento. Depois de na época passada ter lutado até à última jornada pelo título, algo que não acontecia desde os tempos de Paulo Bento, os “leões” estão presentemente no 4º lugar e já afastados das restantes competições.

            E se na vitória o mérito é de todos, também nos maus momentos todos devem partilhar responsabilidades. Mas há quem tenha mais, e houveram momentos decisivos que marcam esta nova era leonina:


1.    Tratamento a Marco Silva

Invocar regras de vestuário para despedir um treinador é revelador de carácter e neste caso específico, foi um mau presságio. Marco Silva ficou em 3º no campeonato, sim. Também é verdade que saiu da Champions na fase de grupos. Mas venceu a Taça de Portugal e deixava a imagem que a equipa podia crescer. O seu despedimento foi penoso e bastante explorado pela comunicação social. Tudo isto deixou a imagem do Sporting mais frágil.

2.    Entrada de Jesus

A apresentação de Jorge Jesus seguia-se a um despedimento no mínimo triste de se ver. Jorge Jesus entrava como um salvador. Uma oportunidade única que o clube não podia deixar passar. Era um roubo ao maior rival e ninguém ficou indiferente, mas Jorge Jesus nunca foi um salvador, sendo “apenas” um bom treinador. A imagem do clube leonino em todo este processo foi que Jorge Jesus compensava tudo. Despedimentos ridículos, salários estratosféricos, etc. Era o tudo ou nada. Demasiada expectativa, demasiada pressão.

3.    Um ego demasiado pesado

Jorge Jesus começou no Sporting com a vitória na Supertaça. Venceu também na Luz por 3-0. O arranque do Sporting foi bom, mas o seu treinador elevou-se a um patamar ainda mais alto. Começou a disparar sobre o Benfica e o seu treinador, e acima de tudo, reclamava constantemente o sucesso apenas para si. Foi um dos melhores campeonatos do SCP, mas a nível europeu nem por isso.

4.    Um ego que reduz, outro que aumenta

Quando Jorge Jesus decidiu parar com os ataques e reclamações individuais de sucesso, os “leões” tinham tudo para arrancar para uma época mais calma e com menos pressão. Até o seu presidente começar a ser o centro das atenções quase todas as semanas. Entrevistas, comunicados, declarações, voltas ao estádio, instruções a jogadores, etc. Bruno de Carvalho nunca pareceu querer passar despercebido, mas cada vez mais vai sendo o centro das atenções do clube, quando deveriam ser os jogadores.

5.    Nem sempre a melhor defesa é o ataque

Se não chegasse querer ser o centro das atenções, Bruno de Carvalho parece querer liderar o seu clube para uma batalha. O problema é que mais ninguém mostra vontade de o acompanhar. Quando os jogadores precisam de calma e tranquilidade, o presidente do clube aparece em confusões com outros presidentes ou aos gritos no balneário do seu clube. Criticar tudo e todos, agir com duas pedras na mão não traz qualquer confiança e serenidade à equipa. Pelo contrário.

6.    Gestão das saídas de jogadores

O Sporting fez um bom campeonato passado e  Portugal foi campeão europeu., logo não de estranhar que Rui Patrício, William, João Mário e Adrien tenham clubes interessados em contar com eles. E para alguns jogadores, aparecem oportunidades de uma vida. É certo que uma equipa tem de conseguir segurar alguns activos para se manter competitiva, mas quando vemos o capitão a dizer que está na altura de sair e o presidente dizer que não sai, cria-se uma situação desagradável. É preciso não esquecer algo: o Sporting paga pouco para a realidade internacional. No Leicester, Adrien poderia ganhar facilmente 3/4x mais.

7.    Dinheiro há, mas só para alguns

E por falar em ganhar mais, o que pensarão jogadores como Adrien ou Rui Patrício  ao ganharem 1/2M€ anuais enquanto o seu treinador ganha 6M€? O que pensarão os jogadores que recebem propostas para renovar por 1M€ por época quando têm o treinador mais bem pago de sempre em Portugal? Como se explica a um grupo de jogadores que têm propostas salariais semelhantes lá fora, que têm de ficar mas não podem ter aumentos salariais por falta de verbas?

8.    A academia desaproveitada

Um discurso consistente de Bruno de Carvalho tem sido o enaltecimento da capacidade da academia sportinguista. Mas a verdade é que Jorge Jesus não é um treinador de aproveitar academias. Não o fez no Benfica, nem no Braga, nem o faz no Sporting. Uma equipa constituída pela academia não é realista, mas a realidade aponta para apenas Ruben Semedo e Gelson Martins como aproveitamento desta época. Iuri Medeiros é um claro exemplo disso mesmo. Ou até a despensa de Carlos Mané.

9.    Hoje serves, amanhã já não

Num clube sem grande margem financeira, é fundamental reduzir o erro ao máximo nas despesas com contratações. E se é verdade que apostas acarretam sempre algum risco, também é verdade que no Sporting têm ocorrido algumas situações a ter em conta. Sarr foi contratado e imediatamente dispensado. João Pereira foi escolhido para simplesmente deixar de contar para o que seja. Segundo as notícias, Elias, Meli e Douglas estarão para sair.

10. Anti-fundos

Os fundos presentes no futebol são um mal menor. Não deveriam existir e talvez não existissem se os clubes gerissem melhor as suas verbas. Mas o caso “Rojo” foi muito mal gerido. Uma teimosia, levou a que o clube ficasse com uma dívida significativa já com a época a decorrer e pelo meio fica uma negociação nada pacífica que deu que falar. E uma venda cheia de polémica para um clube como Manchester United não traz uma boa imagem do Mundo do futebol para o clube vendedor.


    Não quer isto dizer que esteja tudo mal no Sporting. Os mais de 70M€ em vendas é um recorde no clube e mostra progressos. A exibição em Madrid mostra também bastante valor da equipa. Mas quando presidente e treinador do clube são os maiores alvos de sátira e gozo do futebol nacional, dá muito que pensar. Sobretudo quando a maioria dessa atenção costuma ser direcionada para jogadores.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

14 motivos para terminar a Taça da Liga. E ainda sobra um.

Esta época celebra-se o 10º aniversário da Taça da Liga. A competição que tem sido claramente dominada pelo Benfica (7 títulos em 9 edições), surgiu com o objectivo de criar mais riqueza ao futebol português, sobretudo às equipas mais pequenas. Mas a verdade é que não tem sido sucedida nesse e noutros capítulos. 


E se há opiniões divididas, então cá vão 14 motivos que deveriam servir pelo menos para ponderar a extinção da Taça da Liga. E ainda sobra 1.

1. Não há qualquer reconhecimento pela UEFA, através da qualificação para as suas provas. Em Inglaterra, onde existe a prova, os vencedores têm acesso directo ao play-off da Liga Europa. Caso o vencedor se apure para a mesma ou outra competição europeia através do campeonato, a UEFA atribui mais uma vaga para o respectivo campeonato. Também em França, o vencedor entra na Liga Europa.

2. Os canais de televisão estão cada vez menos interessados nos direitos televisivos. A RTP conseguiu os direitos por 0,8M€/ano. Segundo os jornais, a TVI ofereceu 1M€ por 2 anos, em vez dos 2,4M€ que garantiram o acordo anterior.

3. No campeonato, SLB e SCP têm assistências médias superiores aos 85% do estádio. FCP fica-se pelos quase 70%. Na Taça da Liga, SLB e FCP por pouco passam dos 50%, sendo que o SCP passa por pouco os 35%. Este cenário não é exclusivo dos grandes. Rio Ave tem uma diferença de 50% no campeonato para 10% na Taça da Liga.

4. Embora não o cumpra, o presidente da Liga assegurou que não haveriam mais jogos a começar depois das 20h para a Liga. Na Taça da Liga, temos jogos a começar às 21h15. Por outro lado, temos jogos às 14h30 ou 17h15 a uma quinta-feira.

5. Não há qualquer definição de calendário na fase final (meias-finais e final). Se na época passada tivemos meia-final e final disputadas em Maio, na época anterior jogaram-se em Fevereiro e Maio. Por sua vez, em 2014 foram jogadas em Abril e Maio.

6. Sob a promessa de ser uma competição para ajudar equipas mais pequenas, a competição atribui a maior percentagem das receitas quando os 4 favoritos entram em prova (32,5%) das receitas televisivas.

7. Ainda sobre o tal benefício às equipas pequenas, a competição elimina sorteios puros, incluindo equipas mais fortes a cada nova fase. Na 1ª fase, apenas jogam equipas da II Liga. Na 2ª fase, as equipas apuradas recebem a companhia das equipas da I Liga (excepção aos 4 primeiros do campeonato). Na 3ª fase, os apurados juntam-se aos 4 primeiros para disputar um fase de grupos. Neste fase, o sorteio é realizado segundo a classificação do campeonato anterior.

8. Se um jogo for considerado de risco elevado, o clube visitante passa a ter apenas acesso a 5% dos bilhetes em vez dos 30% dos restantes jogos.

9. 10% das receitas são retidos para o Fundo da Competição, que tem como principal função evitar prejuízo dos clubes por organizarem/receberem um jogo no seu estádio.

10. A publicidade referente à competição são exclusivos da Liga, sendo que os clubes apenas podem acordar apoios para si próprios se estes não forem incompatíveis com os da Liga.

11. No sorteio da fase de grupos, as equipas grandes jogam em casa duas vezes e apenas por uma vez são visitantes. A título de exemplo, Varzim e Vizela, equipas do 2º escalão, jogam em Alvalade e na Luz respectivamente.

12. A partir da 2ª fase, cada treinador é impossibilitado de gerir a sua equipa como bem entende. Pelo menos 5 jogadores que participarem no jogo desta competição devem ter sido convocados em 1 dos 2 últimos jogos da sua equipa. Além disso, pelo menos 2 jogadores que participem no jogo, têm de ser da formação do respectivo clube, sendo que estes têm de jogar pelo menos 45 minutos.

13. A média de idades dos jogadores utilizados é o 3º critério usado para desempate na fase de grupos.

14. Nas eliminatórias da Taça da Liga, não há realização de prolongamento caso se verifique empate no tempo regulamentar. A competição difere das grandes competições existentes por esse Mundo fora, passando directamente para as grandes penalidades.

Por fim, sobra um motivo que é talvez o mais importante de todos. O nosso campeonato está longe de atingir o potencial que tem ou já teve. Das baixas assistências (ainda que muito superiores às verificadas na Taça da Liga), à dificuldade nas provas europeias, ao fraco poder económico, à falta de condições em estádios, etc.
Portugal está no 6º lugar do ranking da UEFA, muito perto de perder esse lugar para a Rússia. Do top-10, apenas Portugal e Ucrânia já têm mais de 50% das suas equipas eliminadas das provas europeias.
O que poderia ser feito pelo nosso campeonato, se redireccionássemos atenções, patrocínios e apoios para o que realmente importa?